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Entrevista com Jane Felipe de Souza

Jun 03, 2015

Polêmica sobre livros infantis é analisada pela doutora em Educação da UFRGS, Jane Felipe de Souza, especialista nas áreas de Sexualidade e Relações de Gênero. Nesta semana, o jornal Bom Dia Brasil, da TV Globo, veiculou matéria mostrando que obras adotadas pela Prefeitura de Guarulhos, entre elas "Menina Não Entra", de Telma Guimarães foram vetadas pela Câmara Municipal.

Qual a importância de abordar a questão da sexualidade na família e na sala de aula?

O livro Menina Não Entra trata da questão de igualdade de gênero. É comum haver uma confusão entre os conceitos de identidade de gênero e de diversidade sexual, mas ambos são extremamente importantes e devem ser tratados abertamente no ambiente escolar.

As famílias têm uma enorme dificuldade de discutir e um enorme desconhecimento sobre essas questões.  Essa dificuldade ocorre, pois esse tema ainda é um tabu e as famílias desconhecem sua complexidade e optar por não falar sobre o assunto.

Em sua experiência, como avalia a recepção dos familiares em relação à abordagem desses temas?

Não é possível generalizar, mas observamos cinco posicionamentos mais comuns: o primeiro deles é fingir que a questão não existe, o segundo é recriminar preconceituosamente qualquer curiosidade infantil sobre o assunto, o terceiro é mentir para a criança ou explicar de maneira equivocada, a quarta e ideal postura seria esclarecer e conversar abertamente e a última posição seria falar através de meias verdades, com medo de que isso incentive ainda mais a curiosidade do filho.

Qual seria o papel da escola nessa função?

É obrigação da família e da escola ampliar o conhecimento das crianças sobre os assuntos da atualidade. Nesse caso, a diferença entre as duas esferas é que a escola tem o dever de abordar os temas com embasamento e propriedade sobre o assunto.

É prudente e saudável que as crianças falem e expressem seus sentimentos, angustias e curiosidades. Por isso, na escola não pode haver tema tabu. É um direito da criança ser esclarecida sobre qualquer assunto e a escola deve orientar seus alunos utilizando ferramentas, como os livros didáticos, que tragam essa questão para o mundo da criança.

Como a questão é tratada na prática?

Ainda hoje há um constrangimento e uma dificuldade por parte do corpo docente das escolas ao abordar a questão da identidade de gênero e sexualidade. Isso ocorre, pois muitas vezes em sua formação o professor não foi preparado para abordar essas questões delicadas dentro da sala de aula. O ideal seria haver uma formação continuada específica que ajude o docente a exercer a sua função.  E isso se torna extremamente necessário, pois a questão do gênero e da sexualidade faz parte de uma construção cultural, social e histórica e compreendê-la é muito importante para a formação intelectual da criança. 

Mais informações sobre a Editora do Brasil estão disponíveis no site:www.editoradobrasil.com.br

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