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Ganhadoras do Prêmio Jabuti em Educação falam sobre suas experiências com comunidades de aprendizagem

Dec 16, 2013

O livro 'Comunidades de Aprendizagem: outra escola é possível', publicado pela EDUFSCar, de autoria das educadoras Roseli Rodrigues de Mello, Fabiana Marini Braga e Vanessa Gabassa, foi um dos vencedores do mais tradicional prêmio literário do país, o Jabuti. Ficou em segundo lugar, na categoria Educação. Nesta entrevista, as autoras falam sobre a obra que analisa experiências de comunidades de aprendizagem no Brasil e na Espanha.

Como surgiu a ideia de elaborar o livro?

A ideia do livro surgiu a partir de estudos e pesquisas realizadas pelas autoras e pelo Núcleo de pesquisa ao qual nos vinculamos (NIASE/UFSCar) ao longo de 10 anos de atuação no projeto de Comunidades de Aprendizagem na cidade de São Carlos. Mais especificamente, o livro aborda dados de pesquisas de doutoramento e pós-doutoramento que não se restringem apenas ao contexto brasileiro, mas também ao contexto espanhol, que é o local de origem das Comunidades de Aprendizagem. Nossas pesquisas procuraram evidenciar a potencialidade das Comunidades de Aprendizagem para o contexto brasileiro e, nesse sentido, o livro tinha por objetivo divulgar esses resultados, dialogando com gestores e professores das escolas públicas brasileiras sobre esse modelo de transformação das práticas escolares. 

No Brasil, é costume dizer que os professores costumam sofrer muito para exercer a profissão. Qual foi o principal encanto encontrado na área de ensino para que vocês seguissem a carreira educacional?

O fato de desde a graduação termos encontrado professores/as e pesquisadores/as que estimulassem e fomentassem o estudo de teorias não pessimistas, que mostram caminhos efetivos para a transformação da escola e da educação, bem como a possibilidade de sempre poder exercer a reflexão dialogada. Nesse sentido, as elaborações de Paulo Freire tiveram bastante impacto em nossa escolha, por se tratar de um educador brasileiro que vislumbrou as possibilidades da escola, dando destaque à sua função social. Ao longo de nossa formação aprendemos que a escola é instituição fundamental na sociedade, responsável pela formação das novas gerações em valores e aprendizagem instrumental, e que não se pode abrir mão dela.

Quais são os elementos fundamentais para constituir uma comunidade de aprendizagem?

As Comunidades de Aprendizagem se definem como um modelo educativo comunitário que amplia a possibilidade de diálogo como orientador das ações das pessoas, promovendo a ampliação de espaços participativos e formativos que acolham cada vez mais crianças, jovens, pessoas adultas e seus saberes. Para isto, conhecimento instrumental e participação educativa de familiares e da comunidade de entorno são elementos fundamentais para superação de práticas que têm produzido fracasso escolar.  Além disso, já há conhecimento constituído e reconhecido pela comunidade científica internacional, que orientam ações educativas nas escolas, tendo por eixo os dois elementos citados. 

Comunidades de AprendizagemDe que maneira - e com quem - as comunidades se iniciam?  

As Comunidades de Aprendizagem passam por duas etapas de transformação: uma referente ao processo de ingresso na proposta e a outra que aborda o processo de sua consolidação. No total são oito fases, sendo destas, cinco pertencentes à primeira etapa (sensibilização, tomada de decisão, sonhos, seleção de prioridades e planejamento) e três à segunda etapa (investigação, formação e avaliação). A primeira etapa se inicia com uma formação de 30 horas para o professorado sobre as bases teórico-metodológicas do projeto, seguida, no caso da tomada de decisão favorável do professorado, de uma formação semelhante para familiares, em menor período de tempo. Após a sensibilização, passa-se para a fase dos sonhos, na qual toda a comunidade educativa sonha com a escola que gostaria de ter. Dessa fase surgem os elementos constitutivos para a seleção de prioridades. Uma comissão mista (formada por professorado, familiares, gestão, voluntários da comunidade etc.) organiza os sonhos a partir de prioridades básicas do projeto (máxima aprendizagem dos estudantes e convívio respeitoso na diversidade), para a elaboração de um plano de ação a curto, médio e longo prazo, que será apresentado em assembleia geral da comunidade educativa. Vale dizer que nenhum sonho é deixado de lado. A seleção apenas prioriza aquilo que imediatamente implicará em maior impacto na melhoria da aprendizagem e na convivência respeitosa na diversidade. Após a elaboração do plano de ação, inicia-se a etapa de consolidação do projeto, que tem por objetivo colocar em prática o planejamento elaborado, implementando as ações sugeridas para melhoria e as práticas de êxito já evidenciadas em Comunidades de Aprendizagem para potencializar a aprendizagem (biblioteca tutorada, grupos interativos, tertúlias dialógicas, formação de familiares etc.). Ao longo do desenvolvimento do trabalho o projeto ainda prevê avaliar e fomentar estudos e pesquisas entre todos/as para maior ganho de autonomia do grupo escolar dentro da proposta escolhida. 

Além de uma melhora na qualidade do ensino, seria possível afirmar que a formação de uma comunidade de aprendizagem serve também para fomentar a cidadania?

Certamente. Uma cidadania que tem por base a garantia de direitos a todas as pessoas. Uma cidadania que reconheça e valorize as diferenças, tratando-as com igualdade. Em Comunidades de Aprendizagem isso se torna possível pelo envolvimento de toda uma comunidade em prol do direito à uma educação e uma escola de qualidade para todas as pessoas, por meio de um diálogo intercultural. 

Troféu Jabuti

Qual a importância de se receber um Prêmio Jabuti, em especial na área de Educação? 

A premiação reforça a avaliação positiva que o projeto Comunidades de Aprendizagem vem ganhando em nosso país, evidenciando uma qualidade reconhecida pelo meio acadêmico, em especial na área de Educação. Além disso, consideramos que o prêmio Jabuti dá maior visibilidade a essa proposta de transformação da escola para todo o Brasil, o que é uma conquista muito importante.

Imagens

Foto 1: Vanessa Gabassa, Fabiana Marini Braga e Roseli Rodrigues de Mello, na noite da premiação, em 13 de novembro, na Sala São Paulo. 

Foto 2: capa do livro premiado.

Foto 3: detalhe do troféu.

Mais informações sobre os livros publicados pela EdUFSCar estão disponíveis no site www.editora.ufscar.br

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