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Clássico de Charles Dickens retrata as misérias sociais da industrialização inglesa
Mar 08, 2021
Sobrevivente da insalubridade nas fábricas da época vitoriana, autor do popular romance 'Oliver Twist' denuncia as mazelas da internação compulsória de pobres em asilos
Ainda que modestos, os rendimentos da família Dickens permitiriam uma vida digna e sem privações, não fosse o perdulário patriarca gastar mais do que podia, o que impunha permanentes dificuldades a todos. Esta situação impeliu Charles Dickens (1812-1870), aos 12 anos, para o trabalho como empacotador em uma fábrica de graxa para sapatos, ambiente nocivo e cheio de ratos, onde cumpria jornada de dez horas. A experiência, misturada a grande senso de observação e pendão para o jornalismo, colaborou francamente para uma das grandes obras do escritor: Oliver Twist, que ganha nova tradução pela Coleção Clássicos da Literatura Unesp.
O livro faz uma crítica direta à então recém-aprovada Nova Lei dos Pobres, de 1834, que desestimulava a assistência social e condicionava todo apoio aos necessitados – inclusive crianças, pessoas idosas e doentes – à sua internação em asilos (workhouses), para viver e trabalhar em condições deliberadamente degradantes, com acesso a uma dieta insuficiente, composta em sua maior parte de mingau e pão. Essas instituições ficavam sob responsabilidade das paróquias, unidades de governo local vinculadas à Igreja Anglicana, e eram sustentadas por meio de impostos sobre a propriedade.
Repórter de um mundo em convulsão, Dickens trata de temas como a urbanização acelerada em uma Londres em plena Revolução Industrial, as condições precárias da classe trabalhadora e a desigualdade social, que levavam um batalhão de pessoas a viver na penúria. Uma das principais características de sua obra, além da capacidade de abordar conteúdos densos de uma forma leve e bem humorada – típica da leitura de entretenimento –, é a radiografia precisa da cidade: adepto de caminhadas pelas ruas londrinas, inclusive em suas áreas mais pobres, Dickens observava atentamente o comportamento das pessoas e até anotava a sua forma de falar.
A primeira edição de Oliver Twist em livro começou a ser publicada em 1838, antes mesmo do final da publicação seriada. Além de diversas reimpressões, foram lançadas novas edições, revisadas pelo autor. A repercussão foi tamanha que Dickens incluiu em 1841 um prefácio – reproduzido nesta edição – após críticas por supostamente “glamourizar o crime”.
“Pareceu circunstância grosseira e chocante (nos círculos de “alta moralidade”) que algumas das personagens destas páginas tenham sido escolhidas entre as mais criminosas e degeneradas da população de Londres”, anota Dickens no prefácio. “Pareceu-me que descrever um bando de parceiros de crime tal como realmente existem; pintá-los em toda a sua deformidade, toda a sua desgraça, toda a esquálida pobreza de suas vidas; mostrá-los como realmente são, sempre se esgueirando inquietos pelos rumos mais sujos da vida, com a grande forca negra e horripilante assomando em seu horizonte, para onde quer que se virem – pareceu-me que fazê-lo seria tentar algo que era muito necessário e que prestaria um serviço à sociedade. E, portanto, fiz o melhor que pude.”
Sobre a coleção - Clássicos da Literatura Unesp constitui uma porta de entrada para o cânon da literatura universal. Não se pretende disponibilizar edições críticas, mas simplesmente volumes que permitam a leitura prazerosa de clássicos. A seleção de títulos é conscientemente multifacetada e não sistemática, permitindo o livre passeio do leitor. Já estão publicados outros nove títulos. Confira aqui.
Título: Oliver Twist
Autor: Charles Dickens
Tradução: Renato Prelorentzou
Número de páginas: 536
Formato: 13,5 x 20 cm
Preço: R$ 59,00
ISBN: 978-85-393-0830-9
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