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Biografia do rei Henrique VIII por Georges Minois contextualiza a Inglaterra tudoriana
Nov 07, 2022
Caso único nas monarquias ocidentais, a vida matrimonial do monarca inglês está na raiz das reformas religiosas e políticas que perduram no país até os dias de hoje
Um rei que teve seis esposas e duas delas foram decapitadas: o caso é único nas monarquias ocidentais. Mas o fato aqui vai muito além da anedota, porque os assuntos matrimoniais do "Barba Azul de Hampton Court", como era conhecido o rei Henrique VIII (1491-1547), estão na origem das reformas religiosas e políticas nas quais a Inglaterra atual ainda vive. É este personagem ímpar e o contexto em que reinou que o historiador francês Georges Minois apresenta em sua magistral obra Henrique VIII, lançamento da Editora Unesp.
“Em 22 de agosto de 1485, no coração das Terras Médias, perto da pequena cidade de Bosworth, foi travada uma batalha que determinaria o futuro da Inglaterra. Seria o ato final na interminável Guerra das Duas Rosas, que durante trinta anos colocou a família da rosa branca, York, contra a família da rosa vermelha, Lancaster, pela posse do trono. No campo de batalha estavam os dois últimos concorrentes: de um lado Ricardo III, rei da Inglaterra, 33 anos, o filho mais novo de Ricardo de York e o presumível assassino de seus dois sobrinhos; do outro lado, Henrique Tudor, 28 anos, um galês cuja complicada genealogia justificava, o melhor que podia, as últimas alegações de Lancaster”, escreve Georges Minois na primeira página do livro. Assim começa a história de seu pai, Henrique VII, que colocou no poder a dinastia Tudor, sendo sucedido por seu segundo filho, Henrique VIII, por conta da morte do primogênito Arthur.
As descrições do monarca dão o tom de sua personalidade: "É uma velha raposa", disse dele o embaixador do rei da França. “Lorde Henrique quer ser Deus e faz o que lhe agrada”, acrescentou Lutero. Henrique VIII foi um déspota em um país que nunca aceitou o absolutismo; ele foi um papa para súditos que sempre rejeitaram a autoridade de Roma. Em uma Inglaterra em plena mutação, saindo da Guerra das Rosas, o rei sabia usar o Parlamento para seus propósitos. Contando com os representantes das classes médias, ele lançou as bases para uma reforma religiosa, a reforma “Henriciana”, que sua filha Elisabeth iria transformar em anglicanismo. Lá fora, ele executou uma sutil política de equilíbrio entre Carlos V e François I, seus emuladores em termos de duplicidade. Magnificamente secundado por Wolsey e depois por Thomas Cromwell, foi um príncipe renascentista, um verdadeiro "pai da Marinha Real" e o fundador de uma burocracia eficiente.
“O reinado se abria então sob os melhores auspícios. Mas o príncipe do Renascimento não é somente a amabilidade de Castiglione, é também o realismo de Maquiavel”, marca Minois. “Se esse lado autoritário, tortuoso e impiedoso permanece mascarado durante os primeiros meses pelo brilho das festividades, será revelado demais na sequência. Henrique é instável e caprichoso, sujeito a terríveis mudanças de humor. Servi-lo é uma tarefa amedrontadora, que para muitos terminará no cadafalso.”
O homem – que o alemão Hans Holbein imortalizou com sua pintura – era temível. Em todos os campos, sua paixão por dominar explodiu. A execução era para ele um método de governo. Sob seu reinado, a Torre de Londres viu muitas cabeças saltando. As de Thomas More e Ana Bolena são apenas as mais ilustres. Henrique VIII, autor de um tratado teológico, jogador obstinado, fundador de uma religião, amante das guerras e das festas, confiscador dos bens dos mosteiros, é muito mais do que o rei com seis mulheres, como demonstra Minois, com sua envolvente prosa límpida e solidamente fundamentada.
Sobre o autor – Georges Minois é professor de História e historiador das mentalidades religiosas. Dele, a Editora Unesp publicou História do riso e do escárnio (2003), A idade de ouro (2011), História do ateísmo (2014), História do futuro (2016), História do suicídio (2018), História da solidão e dos solitários (2019) e As origens do mal (2021).
Título: Henrique VIII
Autor: Georges Minois
Tradução: Nícia Adan Bonatti
Número de páginas: 482
Formato: 16 x 23 cm
Preço: R$ 108
ISBN: 978-65-5711-143-7
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