Garota de Ipanema - Antônio Carlos Jobim / Vinicius de Moraes
É permitida a reprodução deste conteúdo desde que citada a fonte: 'Músicas & Musas', de Michael Heatley e Frank Hopkinson. São Paulo: Editora Gutenberg, 2011 (páginas 34 e 35).
Muito ouvida como música ambiente em lugares públicos ou como música de fundo em esperas ao telefone, a “Garota de Ipanema” tem deixado rastros em todos os lugares de circulação pública. Mas foram os passos diários de uma garota a caminho da praia brasileira que inspiraram sua criação.
Heloísa Eneida Menezes Paes Pinto (Helô) tinha 15 anos e morava na Rua Montenegro, no sofisticado bairro de Ipanema, no Rio de Janeiro. Costumava passar todos os dias diante do Bar Veloso e às vezes parava para comprar cigarros para a mãe. O Bar Veloso era ponto de encontro do poeta Vinicius de Moraes e do músico Antônio Carlos Jobim, que não resistiram à compulsão de descrever a graciosidade da garota que roubava a atenção de todos quando passava em uma canção que inicialmente denominaram “Menina que Passa”.
Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça
É ela menina que vem e que passa
No doce balanço, a caminho do mar
Logo a garota tomaria conhecimento: e a música fez dela uma celebridade. Depois que a canção, na voz de Astrud Gilberto, fez um tremendo sucesso no mundo inteiro, houve grande especulação sobre quem seria a garota de Ipanema. Cansado de ver várias impostoras tentando se passar pela “garota”, Vinicius de Moraes, em uma entrevista à revista Manchete, em 1965, revelou ser Heloísa. Disse, de modo poético: “a moça dourada, misto de flor e sereia, cheia de luz e de graça, mas cuja visão é também triste, pois carrega consigo, a caminho do mar, o sentimento da mocidade que passa, da beleza que não é só nossa – é um dom da vida em seu lindo e melancólico fluir e refluir constante”. Heloísa ganhou reconhecimento público, mas, para a surpresa de muitos, nenhum dinheiro diretamente das vendas da faixa.
A canção ganhou o Grammy de Música do Ano em 1965, colocando Heloísa e seus dotes de musa ainda mais sob os holofotes. Sua fama atraía os olhos do público (pelo menos no Brasil), e um ensaio fotográfico na Playboy em 1987 (com Helô já aos 40 anos), assim como uma subsequente edição junto com a filha, em 2003, mostraram que o tempo tinha sido gentil com a mulher de Ipanema. Mas houve muita controvérsia quando Heloísa (agora Pinheiro, já casada com Fernando, um engenheiro de São Paulo) resolveu abrir uma butique chamada “Garota de Ipanema”.
Os filhos de Vinicius e Jobim entraram com um processo de indenização pelo uso do nome da canção. O juiz, indeferindo o pleito, julgou a favor de Heloísa, que já havia comentado sua tristeza em relação ao processo. “O Tom falava que ‘Garota de Ipanema’ era a galinha dos ovos de ouro, mas eu nunca ganhei nem um pintinho com com isso. E não acho que tenho direito. Mas, agora que estou usando uma marca legalmente registrada, eles querem me proibir de ser a garota de Ipanema, o que eu acho um absurdo.”
Famosa por sua caminhada diária para louvar o sol, Heloísa se transformou no objeto mítico de desejo de muitos homens. Mas, para os descendentes dos criadores da canção, o desejo parecia ser apenas de ordem pecuniária.
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