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Especialistas discutem formação de professores brasileiros com base em pesquisa inédita realizada pela Fundação SM e OEI

Oct 23, 2009

Encontro revela caminhos para melhorar a educação no país

O Seminário da Educação para a Cidadania, que aconteceu ontem (22 de outubro) na sede da Fecomércio, em São Paulo, apresentou a pesquisa A formação e a iniciação profissional do professor e as implicações sobre a qualidade de ensino. Durante o evento, uma iniciativa conjunta da Fundação SM e da Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI), especialistas renomados da área debateram questões fundamentais relacionadas à formação de docentes, estrutura escolar e políticas voltadas para a melhoria da educação básica no país.

Para uma plateia com mais de 450 professores, gestores de educação e pesquisadores, a socióloga Gisela Wajskop, mestre e doutora em Educação, que analisou as respostas de 3.512 professores de Educação Básica de todo o Brasil, apresentou os principais dados revelados na consulta de opinião.

“Não existe um pensamento homogêneo na categoria”, afirma a pesquisadora. “Salta aos olhos, por exemplo, as opiniões altamente contraditórias quanto aos estágios e práticas supervisionadas, tanto na formação inicial quanto no exercício da docência.” Se por um lado 86,5% dos professores acreditam que as etapas supervisionadas deveriam servir para que os ingressantes observassem boas práticas docentes, são altas as respostas que desvalorizam essa prática tanto na formação inicial quanto no acompanhamento do docente em serviço. “A contradição revela que há idealização de uma prática provavelmente não experimentada por causa da formação generalista e tecnicista dos cursos de pedagogia que ainda não sofreram os impactos das mudanças propostas pelas Novas Diretrizes Curriculares”, explica Gisela.Gisela Wajskop

Propostas para a melhor formação docente - Para a pesquisadora, é possível que, na realidade brasileira, os docentes não valorizem os estágios por não terem tido boas experiências ou que estas tenham sido altamente burocratizadas. “A formação inicial não considera a docência como um trabalho nem uma profissão: não existe uma pedagogia de formação que insira precocemente os aprendizes de professores na realidade escolar de maneira a que possam refletir sobre as especificidades profissionais no âmbito de contextos singulares.”

A pesquisa identificou também que a maioria dos cursos de pedagogia e de licenciatura não discute com seus estudantes (futuros professores) os objetivos, conteúdos e estratégias da ação docente em uma perspectiva profissional. Gisela conclui que, na falta de uma residência pedagógica efetiva, os novatos não constroem procedimentos profissionais adequados às exigências do contexto. “A formação inicial de qualidade converte-se em exigência fundamental da parte das políticas públicas e das instituições formativas.”

Diante dos dados obtidos, a pesquisa aponta algumas recomendações em termos de políticas públicas, como a exigência de estágios supervisionados desde o início do curso, a serem realizados em todos os níveis de ensino e que propiciem uma prática pré-docente de fato. No que se refere às instituições de ensino superior, a pesquisadora sugere a aplicação constante de instrumentos de avaliação (como Enade, Sinaes etc.) e medidas regulatórias a partir da constatação de desempenhos inadequados. Gisela Wajskop sugere, ainda, a criação de um exame nacional de proficiência profissional do professor.

O arquivo da pesquisa na íntegra está disponível aqui.

Parâmetros internacionais - Jouni Välijärvi, diretor do Instituto de Pesquisas Educacionais da Universidade de Jyväskylä, da Finlândia, apresentou um quadro detalhado sobre a educação de seu país, considerado referência mundial.

Jouni VälijärviTrês princípios norteiam a política educacional - a pluralidade, o pragmatismo e a equidade - que se concretizam em ações como homogeneidade das classes (não há separação entre os alunos mais talentosos e os que apresentam dificuldades), valorização da profissão pela sociedade, sendo muito disputada pelos jovens; e investimento do Estado no financiamento integral da educação.

A formação de professores é considerada fundamental: todos têm nível mínimo de mestrado e desenvolvem pesquisa dentro de sua prática profissional. Clique aqui para mais detalhes sobre o sistema educacional finlandês, em entrevista com o professor Välijärvi.

Após as conferências, uma mesa-redonda debateu as Perspectivas para a formação docente no Brasil. Além de Gisela Wajskop e Jouni Välijärvi, participaram Elba de Sá Barretto, da Fundação Carlos Chagas, Alba Martinez Olivé, fundadora do Programa Nacional de Atualização Permanente dos Professores da Educação Básica da Secretaria de Educação Pública do México, e Marcelo Soares Pereira da Silva, diretor de Políticas de Formação, Materiais Didáticos e de Tecnologias para Educação Básica do Ministério de Educação (MEC).

Alba MartinezA mexicana Alba Martinez falou sobre a formação dos docentes em seu país e defendeu a adoção de uma política de “acolhimento” para a adequada inserção do professor iniciante. “É responsabilidade do Estado assegurar a educação de qualidade e, para isso, é preciso promover medidas que fomentem a boa formação dos profissionais de ensino.” Nesse sentido, apresentou como ações fundamentais o acompanhamento de docentes iniciantes, além de uma forte ligação entre a escola formadora e a que recebe o professor ingressante. Ela defendeu também a necessidade de se diminuírem os encargos administrativos das tarefas docentes. “O sistema educativo é que deve servir à escola e não o contrário.”

Realidade brasileira - A pesquisadora da Fundação Carlos Chagas, Elba de Sá Barretto, apresentou dados obtidos em recente pesquisa realizada pela entidade para a Unesco, que revelou que o grupo ocupacional de professores é um dos maiores do país, atrás apenas dos encarregados de serviços e escriturários, sendo o setor público o maior empregador da categoria. “Além da importância econômica da profissão, há a relevância política e social, pelo caráter que a atividade tem de formadora das futuras gerações.” Ela aponta, entretanto, o descompasso entre o valor da profissão e a remuneração muito aquém do nível de Elba Barretoexigência.

Outro aspecto apontado é o desequilíbrio, nos cursos de formação de professores, entre as áreas de educação e as específicas das disciplinas em que o docente irá atuar. “Enquanto nos cursos de pedagogia não há espaço para as matérias específicas, nos de licenciatura não há espaço para as disciplinas de educação”, aponta a pesquisadora.

Há ainda uma mudança no perfil do aluno: não são mais os jovens que saem do ensino médio e vão direto para a faculdade. Grande parte é de pessoas mais velhas que já trabalha e busca no magistério uma melhoria salarial. “Diferentemente do passado, quando a profissão tinha origem nas camadas médias da população, hoje mais de 40% provêm das faixas mais baixas, com rendimentos de até três salários mínimos, e têm de trabalhar simultaneamente, sobrando pouco tempo e recurso para investir nos estudos.” Para Elba, essa nova realidade implica, portanto, maior necessidade de apoio ao docente.Marcelo Soare

Representando o Ministério da Educação, Marcelo Soares apresentou as principais diretrizes do Plano de Desenvolvimento da Educação, destacando a importância da articulação entre a União, estados e municípios, para implementação de ações que tragam resultados diante da realidade. “A formação de professores não pode ser terceirizada: é responsabilidade do Estado e, portanto, a oferta deve ser pública, de modo a garantir qualidade”, acrescentou, justificando que a valorização do professor só se dará com o estabelecimento de um piso básico salarial em todo o país e a criação de planos de carreiras nos estados e municípios.

“Precisamos, ainda, definir os fundamentos da formação de professores a partir do debate inclusivo da própria sociedade sobre que professores se quer formar para a construção de uma educação humana, solidária, justa e igualitária”, complementou.

Debate - O Seminário de Educação para a Cidadania prosseguiu no período da tarde sob coordenação do secretário geral da OEI, Álvaro Marchesi, que propôs aos gestores de educação a discussão de tópicos para a troca de experiências: como selecionar e formar professores iniciantes, a estrutura de apoio ao professor e o sistema de acompanhamento. Foram relatadas as experiências de várias secretarias Leoncio Fernándezde educação estaduais e municipais de Norte a Sul do país, bem como de outros países da América Latina e Europa.

Para Leoncio Fernández, diretor da Fundação SM (Espanha), a realização deste encontro vem não apenas reforçar a presença do Grupo SM no Brasil, mas também consolidar a parceria com a sociedade e o setor público na tarefa de melhorar a educação. “A célula central da educação é a relação entre professores e alunos. Nesse sentido, discutir a formação dos professores é fundamental.”

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logo_smO Grupo SM é um grupo de Educação de referência na Espanha e na América Latina liderado pela Fundação SM. Responsabilidade social, inovação e proximidade à escola pautam o trabalho da entidade, que tem como objetivo promover o desenvolvimento humano e a transformação social para a construção de uma sociedade mais competente, crítica e justa. No Brasil, onde atua desde 2004, o Grupo SM oferece um catálogo de serviços educacionais e livros didáticos e de literatura infantil e juvenil amplo e diversificado elaborado por Edições SM, e integrado a um projeto que inclui estímulo à formação continuada e à valorização de professores, incentivo à reflexão sobre educação, apoio a projetos socioculturais de diversas instituições, e fomento à leitura e à produção literária.


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