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Pesquisa da Fundação SM mostra como o professor vê sua própria formação

Oct 22, 2009

A Fundação SM e a Organização dos Estados Ibero-Americanos apresentam hoje (22 de outubro) o resultado da pesquisa de opinião A formação e a iniciação profissional do professor e as implicações sobre a qualidade de ensino, levantamento inédito com professores de todas as regiões brasileiras para saber o que pensam a respeito dos primeiros anos de carreira. O anúncio acontece durante o Seminário de Educação para a Cidadania, que está sendo realizado na sede da Fecomércio, em São Paulo, reunindo especialistas nacionais e internacionais para discutir as perspectivas de formação docente no Brasil.

Para a consulta de opinião, foram distribuídos 15 mil questionários para professores de Educação Básica em pleno exercício da profissão, durante o primeiro semestre de 2009. Foram consideradas respostas de 3.512 professores de todo o Brasil, que foram analisadas pela socióloga Gisela Wajskop, mestre e doutora em Educação e dirigente do Instituto Superior de Educação de São Paulo/Singularidades. “A amostra foi definida aleatoriamente e não responde a critérios estatísticos”, explica a pesquisadora. “Mas os resultados trazem à tona questões relevantes sobre a formação inicial e continuada dos professores ingressantes, que podem indicar caminhos para o debate". Quase que a totalidade das respostas é de professores de escolas públicas (96,3%).

Formação inicial – De acordo com mais da metade dos entrevistados, a qualidade do sistema educacional brasileiro está diretamente relacionada à formação inicial do docente. Entretanto, menos de 20% dos docentes creem que o currículo da formação inicial contemple todas as competências necessárias para o exercício da profissão e quase a metade dos professores considera que não há equilíbrio entre teoria e prática nos currículos de Pedagogia e das licenciaturas.

Buscou-se analisar quais são os aspectos mais importantes para que um curso formador de professores tenha qualidade. São elas: capacitação para planejamento de aulas, abordagem de temas atuais relativos à infância e juventude e apresentação de estratégias para a avaliação da aprendizagem. Os estágios supervisionados são considerados menos importantes.

Em relação às competências profissionais, cerca de 65% dos entrevistados consideram que os professores ingressantes trazem ideias novas às escolas. “Reproduzindo uma ideia bastante corrente no senso comum, são os mais jovens e ingressantes aqueles mais animados, esforçados e que trazem ‘arejamento’ ao ambiente escolar”, comenta Gisela.

Dentre os entrevistados, 20% avaliam que os novos docentes desconhecem o sistema educativo e seus problemas. Os educadores observam que os docentes em início de carreira conseguem manter boas relações com todos os membros da comunidade educativa, principalmente com os companheiros de profissão. Cerca de 60% opinam que o tratamento dado a professores novos e antigos é o mesmo; somente 22% do professorado acreditam que a escola protege de certa forma o ingressante.

A porcentagem dos docentes que considera que os ingressantes não têm a mesma vocação que antigamente aumenta com os anos de experiência. De acordo com a pesquisadora que analisou os dados obtidos pela pesquisa, esse resultado surpreende, pois vai de encontro com outras pesquisas realizadas anteriormente, que destacam a capacidade de inovação, interesse e entusiasmo dos ingressantes.

Aprender com a experiência – Os dados gerais da pesquisa mostram que 50% dos professores veteranos não consideram que os novos docentes sejam de certa forma relutantes a aprender com aqueles que já têm mais experiência. No entanto, menos de 20% dos professores em início de carreira compartilham da mesma opinião. “Curiosamente, são os mais jovens na profissão, com menos de três anos de docência, que consideram que seu grupo é resistente a aprender com a experiência dos mais antigos”, comenta a Gisela Wajskop.

Para a pesquisadora, os dados indicam que os educadores recém-formados, entusiasmados com o que aprenderam na faculdade, acham que não precisam aprender com quem já trabalha. 53% dos entrevistados também acreditam que os professores novos devam começar com grupos mais novos, não com turmas antigas.

Também se constatou que 65% dos entrevistados se sentiram amparados pelos colegas de trabalho quando começaram a atuar nas instituições de ensino. A porcentagem é ainda maior se considerarmos somente os professores de escolas públicas. A pesquisa mostra que os professores que estão começando na carreira profissional chegam às escolas com uma série de dúvidas e inseguranças, que, além de ter seus fundamentos na educação específica, advêm da educação básica e vivência anterior da pessoa.

Qualidade dos professores – A pesquisa retrata que 72,6% ainda não perderam o entusiasmo que tinham quando começaram a trabalhar, e que 70% recordam com orgulho seus primeiros anos de docência. 83,4% dos professores afirmam que não se entendiam com a direção da escola no começo da carreira, mas acreditam que não lhes eram deixadas as piores classes. Desta opinião compartilham somente 30% dos entrevistados. Mais da metade lembra-se de ter achado, no início da carreira, que a formação recebida na faculdade não lhe servia de nada, mas apenas uma pequena parcela (23,7%) pensou em abandonar a docência. Mais de 90% dos docentes se considera melhor professor atualmente do que antes.

Os fatores que mais de 95% dos professores consideram importantes ou muito importantes para formar um professor com qualidade são, por ordem: o trabalho em equipe (97%), a formação continuada (96,3%), a formação inicial (95,8%), ter oportunidades para seu desenvolvimento cultural (95,5%), os programas de incentivo e desenvolvimento do hábito de leitura (95,4%) e as condições de trabalho (95,3%). Os considerados menos importantes são os relacionados à supervisão, seja no período de estágio ou no início da carreira.

“Saltam aos olhos as opiniões altamente contraditórias quanto aos estágios e práticas supervisionadas, tanto na formação inicial quanto no exercício da docência”, chama atenção Gisela Wajskop. De um lado, 86,5% dos professores acreditam que as etapas supervisionadas são importantes, mas também são altas as respostas que não valorizam essa prática. “Essa contradição revela que há uma idealização de uma prática provavelmente não experimentada por causa da formação generalista e tecnicista dos cursos de Pedagogia”, explica a pesquisadora. Outras pesquisas sugerem que os estágios se reduzem à observação e não se constituem em práticas efetivas.

Recomendações – Diante dos dados obtidos, a pesquisa aponta algumas recomendações em termos de políticas públicas como a exigência de estágios supervisionados desde o início do curso, a serem realizados em todos os níveis de ensino e que propiciem uma prática pré-docente que vá além da observação. No que se refere às instituições de ensino superior, a pesquisadora sugere a aplicação constante de instrumentos de avaliação (como Enade, Sinaes etc.) e medidas regulatórias a partir da constatação de desempenhos inadequados. Gisela Wajskop sugere, ainda, a criação de um exame nacional de proficiência profissional do professor.

Para conhecer a pesquisa na íntegra, clique aqui.

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