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OPINIÃO | Dekasseguis: questão exige postura firme e sem preconceitos

Sep 03, 2006

Muitas são as dificuldades enfrentadas pelos japoneses que trabalham no Brasil e brasileiros que trabalham no Japão, os chamados dekasseguis. Wilma Motta, como integrante da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa (Bunkyo), tem contribuído para a aproximação do Brasil e Japão na busca de uma solução para essa questão. Neste artigo, ela analisa e discute o assunto.

OPINIÃO | Dekasseguis: questão exige postura firme e sem preconceitos

Wilma Motta

Por Wilma Motta

Em 1990, uma mudança na lei japonesa permitiu aos nikkeis receberem vistos de trabalho, fato que acelerou o processo de imigração, existente, até então, de forma reduzida. O resultado é que, hoje, enquanto a colônia japonesa no Brasil conta com cerca de 1,5 milhão de pessoas, entre japoneses e seus descendentes (só em nosso Estado de São Paulo, são cerca de 900 mil pessoas), temos hoje algo em torno de 300 mil nipo-brasileiros vivendo no Japão.

Um cenário que apresenta aspectos econômicos, políticos e jurídicos, mas também envolve questões culturais, de exclusão social. E também diversos problemas que devem ser enfrentados em duas frentes: a assistência aos dekasseguis (os que foram “trabalhar fora de casa”) que buscam por inserção no mercado de trabalho japonês; e a integração aqui (ou no Brasil) da comunidade nikkei em nichos onde ainda é rara a sua presença.

Em relação aos dekasseguis, são muitas as dificuldades enfrentadas por quem é “japonês no Brasil e brasileiro no Japão”. Questões que precisam ser enfrentadas tanto pelo governo brasileiro quanto pelas autoridades municipais japonesas, garantindo o mínimo de cidadania, reestruturação familiar, assistência ao futuro imigrante (ainda no Brasil e, posteriormente, quando já no Japão). Acrescente-se a necessidade de um olhar cuidadoso com a educação das crianças, muitas em processo de alfabetização, que chegam ao Japão com seus pais e têm dificuldade, oriunda do desconhecimento da língua e o “estranhamento” cultural, de acompanhar os estudos.

Já em relação à comunidade nikkei, é preciso ir a fundo nas razões da resistência a uma maior integração na sociedade brasileira, reflexo dos preconceitos de ambos os lados. Já está mais do que amadurecido o momento da comunidade nikkei se abrir para parcerias com outras instituições não nikkeis para o intercâmbio de experiências como, por exemplo, nas áreas de deficientes e de terceira idade.

O movimento de nikkeis rumo à terra de seus antepassados também gerou uma rede de relacionamentos e informações que circulam entre os dois países. Isso pode nos ajudar, existindo vontade política e trabalho das instâncias públicas dos dois países, a transformar um problema social em oportunidade de melhorar e intensificar as relações entre ambos. 

Como integrante da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa (Bunkyo), tenho contribuído para a aproximação dos dois países. E acredito que as dimensões social e cultural são esferas privilegiadas para pensarmos nos dekasseguis como desbravadores de um novo caminho a ser trilhado conjuntamente por Brasil e Japão.

Às vésperas da comemoração do centenário da imigração japonesa ao Brasil (2008), a renovação, a integração e o foco especial nos dekasseguis vêm mobilizando as instituições nikkeis, mas ainda não têm sido o centro das relações entre Brasil e Japão. A aproximação é, sem dúvida, acelerada pelo aumento do intercâmbio econômico e tecnológico e fortalecida pela troca cultural, que vem acontecendo continuamente em quase um século da imigração e que fornece hoje elementos para celebrar a multiculturalidade e a miscigenação.

Um melhor conhecimento da diversidade cultural dos dois países pode ajudar a acabar com as visões discriminatórias e preconceituosas que ainda persistem. E também funcionar como uma janela de oportunidade para dois países tão distantes cultural e geograficamente, mas com uma história comum construída com sacrifício e muito trabalho.  Tantos os que aqui chegaram quanto os que partiram em busca de novas oportunidades.


Wilma Motta foi presidente do Secretariado Estadual e vice-presidente Nacional do PSDB-Mulher. Atualmente, é membro da Executiva Nacional do partido, onde integra a Comissão de Ética, e é vice-presidente do Instituto Sérgio Motta. É candidata a deputada estadual pelo PSDB-SP. Mais informações estão disponíveis no site: www.wilmamotta45455.can.br
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