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Convergências e divergências entre as versões on-line e impressa das revistas brasileiras
Jan 18, 2006
Qual é a visão do jovem universitário em relação às principais revistas brasileiras? Qual é sua preferência? Em papel ou on-line? Esta pesquisa de Iniciação Científica traz dados empíricos
Vivemos a era do conhecimento, da velocidade de informação e da comunicação personalizada. Nesse cenário um admirável mundo novo se abre para todos os povos do mundo globalizado. Novas mídias como a Internet surgem causando uma verdadeira revolução nas consagradas. A TV, o jornal, o rádio, o cinema, tudo enfim se transforma rapidamente.
Para Ismar de Oliveira Soares – jornalista, professor da ECA-USP e autor do livro Sociedade da Informação ou da Comunicação? –, essa revolução tecnológica no processo de mudanças econômico-ideológico-culturais do mundo contemporâneo influencia sobremaneira as mídias tradicionais.
Os bens simbólicos (difundidos através de filmes, programas de TV e de rádio, livros, revistas e jornais) já não escapam de uma subordinação à nova prática econômica, alimentando – segundo alguns críticos – o imaginário da maior parte dos seres humanos de todas as raças, religiões e poder aquisitivo (Soares, 1997: 86).
Com isso percebemos transformações profundas em várias áreas da atual sociedade: o surgimento de um poderoso mercado global de mídia e bens culturais; esse mercado imenso nas mãos de poucas corporações transnacionais; inovações tecnológicas que aceleram esse processo e distribuem rapidamente informação para qualquer lugar do mundo. Modificando e/ou estendendo conceitos como o geográfico, esses novos espaços de trocas propiciam novas experiências que necessitam ser pensadas em conjunto, procurando-se delimitar o seu papel na sociedade informatizada e os meios alternativos de trocas que nascem conjuntamente às novas tecnologias.
Pierre Levy – autor do livro Cibercultura e professor do departamento de hipermídia da Universidade de Paris – nos diz que:
Estamos vivendo a abertura de um novo espaço de comunicação, e cabe apenas a nós explorar as potencialidades mais positivas deste espaço no plano econômico, político, cultural e humano (Levy, 2000: 121).
A aceleração da velocidade de trocas de informação, transformada pela ação do homem por meio do incremento das tecnologias e dos meios de comunicação de massa constitui um denominador comum que rege as transformações na natureza das relações humanas nos dias de hoje. O novo conhecimento produzido está disponível em quantidade, profundidade e com rapidez a quem desejar conhecê-lo. Para Wilson Dizard – autor do livro A Nova Mídia – a Internet é a rede de informação que mais cresce no mundo, com estimados 40 milhões de usuários em mais de 125 países.
A rede vem dobrando em tamanho a cada ano na década do 90, impulsionada pelo interesse de usuários de computadores comuns em ambientes como a World Wide Web. Em 1995, a Web ofereceu mais de 3 milhões de páginas multimídia de informação e entretenimento, a maior parte gratuitamente (Dizard, 2000: 57).
Os meios de comunicação, nos últimos anos, sofreram várias transformações no que tange à produção e à distribuição de conteúdo, mas principalmente focando abrangências diferenciadas de público. Com o desenvolvimento das novas tecnologias e com as mudanças na economia e na política, atualmente, percebe-se que representam muito mais que o quarto poder.
Manuel Castells – autor do livro A Galáxia da Internet e professor de sociologia e planejamento regional na Universidade da Califórnia – afirma que:
O poder é exercido antes de tudo em torno da produção e difusão de nós culturais e conteúdos de informação. O controle sobre redes de comunicação torna-se a alavanca pela qual interesses e valores são transformados em normas condutoras do comportamento humano (Castells, 2003: 135).
A percepção de que a Internet poderia ser aproveitada a favor dos grupos de mídia surgiu com o próprio desenvolvimento da Internet comercial. Diante da pulverização de opções de fontes de informação, as grandes redes de comunicação acabaram por se render à importância da mídia Internet, de características tão diferentes quanto estranhas à lógica de produção comunicacional no ambiente analógico.
A mídia tradicional começa a se deparar com um meio dotado de um diferente suporte, implicando numa forma diferenciada de produção e transmissão, bem como de participação e integração do público. Compreender o suporte da Internet e sua lógica comunicacional passa a ser um componente determinante no desenvolvimento de estratégias das empresas de mídia.
As revistas impressas e eletrônicas no Brasil
Segundo Nicholas Negroponte – autor do livro A Vida Digital e um dos fundadores do prestigiado Media Lab do Massachusetts Institute of Thecnology – as transformações tecnológicas que estamos presenciando serão importantes para o advento de novas formas de divulgação cultural,
O advento da internet está mudando a cultura e a as relações sociais na sociedade contemporânea, um conteúdo inteiramente diverso emergirá dessa digitalização, assim como novos jogadores, novos modelos econômicos e, provavelmente, uma indústria de informação e entretenimento (Negroponte, 1995: 186).
Leonardo Moura – jornalista e autor do livro Como escrever na rede –, corrobora essa visão.
O estilo de vida web ganha força para mudar toda a intensidade de transmissão das informações e das cobranças empresariais em países de economia global. Portanto, se o conteúdo ainda não foi pensado para esse novo veículo, é hora de rever conceitos (Moura, 2000: 48).
O aprofundamento da notícia por meio de hipertextos, atualização permanente, convergência de conteúdos e formatos e a possibilidade de personalização do noticiário são vantagens do jornalismo digital. As revistas aderiram a essa nova mídia também com o intuito de aumentar sua renda, por meio dos formatos digitais de publicidade e venda de assinaturas das versões impressas.
Essas considerações fazem desse estudo uma oportunidade de vislumbrarmos uma fatia desse novo fenômeno da comunicação de massa, seus impactos nas revistas impressas, de modo a favorecer a compreensão de seus desdobramentos, a partir de uma análise de depoimentos de alunos do curso de Comunicação Social. A escolha de estudantes e professores do curso de Comunicação Social para integrar esse estudo deveu-se, sobretudo, ao acesso que este público tem aos dois veículos, bem como seu inerente interesse nos processos comunicacionais.
Desenvolvimento
Foram desenvolvidos e aplicados 2 (dois) questionários para que o aluno pesquisador pudesse estabelecer um quadro comparativo entre os sites e as revistas selecionadas (Veja, Época, IstoÉ e Carta Capital) para a pesquisa e 1 (um) questionário que foi aplicado junto a 100 alunos de graduação em Comunicação Social da Universidade Anhembi Morumbi, para se detectar como este público percebe as convergências e divergências entre as versões impressa e on-line das revistas selecionadas.
Na primeira fase da pesquisa, pôde-se perceber que, seja como complemento da informação, ferramenta de degustação ou como canal de vendas, os sites de revistas estão consolidados, cada um com uma função primordial em destaque. O site da Época, por exemplo, desempenha a função de complemento informativo enquanto o da Veja traz seções interativas como infográficos e muito serviço para o leitor. Outra vantagem do site é a disponibilidade de banco de dados com acesso rápido. Revista e Internet se complementam a partir do momento em que se identifica o que cada meio tem de pertinente.
Os sites de revistas servem de referência para aprofundamento de assuntos específicos e algumas das semanais têm conteúdo atualizado on-line como é o caso da Veja e da Época. Como não dispõem de agência de notícias, o site da revista IstoÉ utiliza-se de infográficos e testes elaborados para fornecer conteúdo exclusivo ao leitor do site.
Entretanto, essas vantagens e diferenciais não são suficientes para atrair o jovem estudante universitário, conforme visto na segunda fase da pesquisa.
Nesta fase, os estudantes de comunicação social, usuários dessa nova mídia, puderam comparar as duas versões existentes do mesmo título, a impressa e a eletrônica, e informaram algumas de suas vantagens e desvantagens assim como alguns de seus erros e acertos.
Resultados
Cumpre destacar que o público entrevistado foi composto de alunos do curso de comunicação social, da classe AB, que têm acesso gratuito à rede mundial de computadores, na própria universidade e são estimulados por ela a manter-se conectado, uma vez que vários serviços e consultas sobre as atividades curriculares devem ser feitos através do site da universidade.
Ou seja, é um público habituado a navegar pela internet.
Por esse motivo as informações que mais surpreenderam e podem dar um norte para se pensar como trabalhar melhor a publicidade na mídia on-line são os seguintes:
A grande maioria dos pesquisados prefere a versão impressa das revistas, em detrimento de sua versão on-line, como aponta a questão 14 (os índices variam de 63% a 85% de preferência pela versão impressa, contra 25% e 36% que optam pela versão on-line). As pessoas que preferem a versão impressa apontam como justificativa o fato dela ser mais prática, ter a leitura menos cansativa, mais conteúdo, a sensação tátil e podem ser colecionáveis.
As pessoas que preferem os sites enumeram apenas o fato de serem mais econômicos, acesso fácil no trabalho e ter atualização constante. Não foram mencionados outros quesitos, como a interatividade, recursos multimídia, a possibilidade de consultar edições anteriores e ferramentas de pesquisa sobre temas de interesse. Que foram questões levantadas no comparativo entre as revistas selecionadas (Veja, Época, Carta Capital e IstoÉ).
As respostas mais freqüentes para o que levaria os pesquisados a lerem a versão impressa da revista (questão 13) são a imparcialidade, a leitura menos cansativa, mais conteúdo, preço mais barato, maior isenção e conteúdo melhor.
Já o que os levaria a ler mais os sites a resposta freqüente foi somente a atualização constante.
Na questão 12, percebe-se que a Veja atende todas as expectativas quanto ao conteúdo, mas não quanto ao acesso às matérias, porque apresenta restrições de acesso para os não assinantes e até para quem não comprou a edição da semana na banca, por exemplo. Já a IstoÉ (como foi demonstrado no quadro comparativo entre as revistas) dá acesso total ao conteúdo do site, o que é percebido pelos pesquisados nesta questão, ao declararem que a versão on-line da revista IstoÉ atende todas as expectativas quanto ao acesso às matérias.
Quanto ao hábito de leitura (questão 11), percebe-se que os entrevistados lêem mais a versão impressa na sua própria casa, na casa de amigos e parentes e em viagens. Os sites das revistas são mais lidos no trabalho e na faculdade.
O aspecto visual (questão 7) percebido como equivalente pelos entrevistados nas duas versões.
Essa relação já é um pouco diferente na questão da qualidade de texto das duas versões (questões 5 e 6). Apesar de terem praticamente o mesmo conteúdo editorial (com exceção da Veja que tem maior conteúdo on-line) elas apresentam diferenças na percepção do público quanto à qualidade de texto no site e na revista.
Considerações finais
Os dados obtidos com a pesquisa indicam que ainda existem algumas discrepâncias das revistas eletrônicas em relação ao formato impresso, como a forma de leitura, por exemplo. A revista é um produto tátil que o leitor pode levar para qualquer lugar e o site não. A relação com o monitor priva a intimidade que o papel permite. Outro fato importante e que deve ser pensado tanto por estudantes, como professores e profissionais da área de comunicação é que a interatividade é ainda um recurso pouco ou quase nada explorado neste momento pelos sites nacionais de revistas. Muitas vezes deixa-se que o site da revista seja apenas um balcão de venda de assinaturas, sem se criar qualquer conteúdo novo e interativo como faz a Carta Capital, por exemplo.
O que se apreendeu também das entrevistas com os alunos do Curso de Comunicação Social é que as revistas ainda não conseguiram transferir a credibilidade que possuem aos seus sites. A grande maioria dos entrevistados ainda prefere ler as matérias produzidas pela redação na versão impressa. Os motivos apresentados (o fato dela ser mais prática, ter a leitura menos cansativa, mais conteúdo, oferecer sensação tátil e poder ser colecionável) demonstram uma maior empatia com esse formato.
Ao contrário do que se esperava nas respostas sobre a versão digital, como a valorização dos recursos que esta nova mídia permite (como interatividade, recursos multimídia, possibilidade de consultar edições anteriores e ferramentas de pesquisa sobre temas de interesse) a minoria que prefere o site o faz por causa de sua possibilidade de atualização constante. Estas questões, pelo visto, são pouco exploradas ou ainda não conseguiram suscitar uma preferência maior pelo site.
Os dados obtidos não se configuram, portanto, como uma boa notícia para anunciantes das versões onl-ine. Os sites aparecem apenas como um apêndice da revista impressa, não tendo, portanto, uma vida própria. Esse fato se deve – em grande parte – à estratégia das editoras em manter os sites apenas como uma grande ferramenta de captação de assinaturas para as publicações, sem se preocuparem em investir mais na qualificação das equipes de trabalho, com especialização da linguagem digital e criação de conteúdos mais elaborados, ricos e interativos.
A pesquisa realizada sobre convergências e divergências entre as versões on-line e impressa de revistas brasileiras na visão do público universitário aponta que alguns caminhos ainda devem ser percorridos pelas revistas on-line para que capitalizem de maneira mais eficaz as campanhas publicitárias nelas veiculadas e se beneficiem deste crescimento do mercado publicitário na Internet. Ainda é pouco perceptível a aplicação nas versões online dos recursos que a tecnologia permite, como interatividade, áreas multimídias, atualização constante e qualidade visual para seus sites. A Internet apresenta sem dúvida um grande potencial para anunciantes, uma vez que o jovem classe AB está definitivamente conectado à rede, mas desde que as revistas digitais venham a encontrar uma linguagem própria, que se diferencie da versão impressa.
Este estudo não teve a pretensão de esgotar o tema. Com certeza, a não transferência de credibilidade das revistas para as suas versões on-line e os meios de se alcançar o aumento da preferência dos leitores devem ser objeto de futuros estudos.
Pesquisa de Iniciação Científica financiada pela Universidade Anhembi Morumbi e desenvolvida sob orientação da Profa. Ms. Katia Saisi. Esta é uma versão reduzida do artigo completo publicado originalmente em Redemoinhos - Informativo da Cidade do Conhecimento da Universidade de São Paulo. Para conhecer a versão completa, clique aqui.
é formado em Gestão de Comunicação Empresarial e também em Publicidade e Propaganda pela Universidade Anhembi Morumbi. Atualmente, é gerente de Conteúdo da Compera, empresa de ponta no ramo de telecomunicação.
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